Evolução Tecnológica – Perdas e Ganhos
Na raça humana, desde os primórdios do nascimento da
humanidade, o homem buscou melhorar sua relação com a natureza, muitas vezes
hostil e perversa, para sobreviver e viver melhor, com mais conforto, com menos
esforço. Foi assim na idade da pedra, depois dominou o fogo e forjou o aço.
Estas ferramentas o ajudaram na caça e na sua defesa frente a animais muitas
vezes mais rápidos e pesados do que ele.
Mas ao mesmo tempo que estes ganhos o ajudavam a sobreviver
e dominar seu território, poderiam ser usados por outros homens, desconhecidos
de seus pares para eliminá-los, e assim o homem experimentava desde a
pré-história, que existem ganhos e perdas na evolução.
Outro dia conversando com um amigo, que diferente de mim,
ainda está no mercado de trabalho, me falava que sua companhia estava todos os
dias demitindo colaboradores e tinha como meta reduzir o número de prédios para
100 prédios, até 2029. Só para termos uma ideia desta redução, no ano 2000 está
mesma companhia, a qual não posso dizer o nome por razões obvias, possuía no
território brasileiro mais de 3.000 prédios.
Mas o que ocorreu para esta drástica meta de redução, a
simples evolução tecnológica. Fazendo um rápido exercício desta meta,
muitos empregos serão eliminados, como pessoal de segurança, manutenção, e gestão
dos prédios, bem como equipamentos obsoletos descartados. Certamente muitas
perdas irão ocorrer, mas existirão ganhos, economia de energia e impostos
prediais, novos serviços com custos menores para os usuários com equipamentos
modernos e sofisticados nos prédios que ainda forem necessários.
A evolução tecnológica ocorre em todas as áreas, mas numa
área que foi minha missão e permaneci por mais de 43 anos, foi a área das
telecomunicações e desta forma vou tentar mostrar os ganhos e perdas desde o
começo, quando dezenas de milhares de telefonistas comandavam alegremente as
centrais de telefonia. Embora eu não estivesse lá, pois nasci nos anos 50, e
comecei em telecomunicações nos anos 70, estudei um pouco a história desta
grande invenção da humanidade que foi o telefone.
No começo do século 20, alguns anos depois que Graham Bell inventou
o telefone e milhares de fios telefônicos se espalhavam em grandes cidades no
mundo inteiro, as centrais telefônicas eram um emaranhado de fios e painéis,
luzes e cabos, onde telefonistas conectavam freneticamente, plugs e cabos para
os ricos assinantes, que tinham dinheiro para possuir uma linha telefônica.
Em 1900 em Nova York, existiam 80.000 privilegiados
proprietários de linhas telefônicas e nos Estados Unidos existiam mais de
16.000 telefonistas. Nesta época os ganhos de ter uma linha telefônica, eram
para poucos abastados e grandes empresas, uma vez que Nova York tinha 3,4
milhões de habitantes, que precisavam enfrentar filas para realizar uma cara e
demorada chamada telefônica.
Então chegaram as centrais telefônicas eletromecânicas
automáticas, sem a necessidade de telefonistas em 1920, a perda agora era o
emprego de grande parte das telefonistas, que dia após dia perdiam seus
empregos, mas a sociedade ganhava em velocidade nos tempos de conexão
telefônica e ainda surgiam novos empregos na indústria fabricante dos novos
equipamentos e dos técnicos de manutenção, além dos novos negócios facilitados
pela crescente oferta de telefones no mercado.
Depois dos telefones a manivela, chegaram os telefones a
disco, que geravam impulsos elétricos de acordo com o número selecionado, os
telefones a disco mais modernos são do meu tempo, lembro de ter na minha casa
vários modelos, que hoje só existem em museus, foram fabricados aos milhões,
enquanto as redes de telefonia a cabo se expandiam pelo mundo, criando um
mercado bilionário e milhões de empregos em todo o mundo por quase um século.
As décadas de 30, 40, 50, 60 e 70 foram épocas douradas para
as telecomunicações, apesar da estagnação durante a 2ª grande guerra, a
automatização das centrais se espalharam pelo mundo e a busca de profissionais
especializados para o mercado era frenética, profissionais eram contratados
dentro das escolas de formação, eu mesmo era um destes contratados nos anos 70.
Até o final da década de 70 tudo ainda era analógico, mesmo
com uma boa parte dos sistemas já utilizando circuitos eletrônicos, os
telefones abandonaram o disco e adquiriram teclas multifrequenciais, mas a
década estava terminando e surgia os circuitos digitais, graças a integração
dos transistores, descoberto no final da década de 40 e agora integrados em
pastilhas de silício. Começa a digitalização dos sistemas de transmissão e a
alta integração nas centrais telefônicas com circuitos lógicos de estado solido.
A transição dos sistemas analógicos para digitais exigiu
novos conhecimentos dos profissionais, uma vez que os volumosos e pesados
equipamentos eletromecânicos estavam sendo substituídos por centrais CPA
(centrais de programa armazenado), mais uma vez a tecnologia criava perdas de
emprego dos profissionais especializados nas centrais eletromecânicas cheias de
reles e motores, e os ganhos eram em economia de energia, espaço físico e
velocidade nas conexões telefônicas.
Mas a tecnologia que demorava décadas para evoluir em
pequenos passos até os anos 70, seguiu nas últimas décadas a lei de Moore
(Gordon Moore – fundador da Fairchild Semicondutor -1965), que dizia que a cada
18 meses dobrava a capacidade de um processador pelo mesmo custo, fazendo a
tecnologia evoluir sistematicamente. Junto a estas inovações, na década de 90
surge a indústria do software, que é adicionada aos novos soft switches com
CPU’s (Unidade Central de processamento), aumentando a capacidade destes equipamentos
de comutação telefônica e internet e reduzindo ainda mais a área ocupada, para
menos de 1/3 das antigas centrais eletromecânicas.
Outra inovação que chega ainda na década de 80 é a fibra
óptica, que em menos de 40 anos aposentou as redes cabeadas de fios elétricos
que interligavam os assinantes as centrais telefônicas e permitiu aumentar o
raio de alcance de um assinante até a central, uma vez que com fios elétricos o
alcance máximo era de 4 quilômetros no máximo e com a fibra óptica podem chegar
até 40 quilômetros, e isto explica parte da redução de prédios citadas no
terceiro parágrafo deste artigo.
A fibra óptica causou também uma perda de milhares de
empregos de profissionais que trabalhavam nas redes telefônicas cabeadas de
fios elétricos, parte destes profissionais foram realocados certamente, mas num
número bem menor, uma vez que cada fibra óptica pode atender centenas de
assinantes devido a técnica de multiplexação utilizada no sistema óptico.
Mas a inteligência da rede não ficou somente nas centrais
telefônicas, ela vem evoluindo rapidamente, e o software chegou também nas
redes de longa distância de interconexão das várias centrais, que hoje são
datacenters, os sistemas SDN (Software Defined Network) são redes inteligentes
que dispensam a ação humana para alterar rotas e contornar falhas e
congestionamentos de rede.
Certamente estas ações causam perdas nos postos de trabalho,
e diminuem drasticamente o pessoal operacional de comando e controle destas
redes, por outro lado está automação produz ganhos no tempo dos circuitos fora
de serviço evitando multas e diminuindo os valores alocados para perdas
financeiras no balanço das empresas.
Desde a época das redes de telecomunicação analógicas, a
preocupação com a redundância da rede, de forma a proteger os circuitos, era
realizada criando redes reserva que no princípio eram ativadas manualmente,
quando a rede principal falhava, mas com a evolução da eletrônica, circuitos
sensíveis a falhas eram posicionados nas extremidades das redes e comutavam a
rede principal para a reserva, quando a principal entrava em falha
automaticamente, sem a interferência humana.
Com a utilização massiva de softwares estes dispositivos
foram largamente utilizados e tornaram as redes autônomas e mediante a
programação definida realizam manobras de proteção da rede em caso de falhas e
adicionam ou reduzem circuitos de acordo com a demanda necessária sem a ação
humana.
Qual será o próximo movimento da evolução? Nas fabricas de
equipamentos de telecomunicação, mais de 90%, sendo conservador, do processo de
fabricação, testes e armazenamento já está robotizado. A instalação destes
equipamentos nos datacenters realizada por seres humanos, se resume a fixação
no solo e conexão dos cabos de energia e serviços, pois a ativação e testes de
comissionamento pode ser feita a distância, inclusive operados do outro lado do
mundo. Será que na próxima década robôs estarão dirigindo o caminhão de entrega
e realizando os serviços dos seres humanos nos datacenters?
Este é um pequeno exemplo da evolução no campo das
telecomunicações, mas tenho certeza de que se olharmos qualquer outro segmento
teremos condições semelhantes.
Quando observamos o inevitável movimento da evolução,
precisamos entender que é o preço a ser pago por nossa condição de existir, não
existe a opção de parar o movimento, nem voltar atras, é assim com nossa vida e
continuará sendo com a evolução em qualquer área.
Obrigado por ler, até aqui, meu artigo. Espero que minhas
reflexões ajudem a entender um pouco mais sobre este breve resumo sobre perdas
e ganhos no incrível segmento das telecomunicações.
Rio de Janeiro, 8 de agosto de 2014
Meu email - cabreira.cn@gmail.com
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