As Telecomunicações no Brasil – Do império aos dias de hoje

 

O sistema Telefônico Mundial teve um crescimento lento e gradativo. Somente nos primeiros anos do século 20, as principais cidades norte americanas instalaram seus sistemas telefônicos. Por exemplo, Nova York atingiu 500 mil telefones instalados em 1913, quando Paris nesta mesma data contava com 93 mil linhas de telefones manuais. Os sistemas de telefonia manual eram operados por telefonistas. SO telefones operados por centrais automáticas só começam a serem instalados a partir de 1919.

No Brasil, embora o primeiro telefone, presente de Graham Bell a Dom Pedro II, tenha sido instalado em janeiro de 1877 no Palácio São Cristóvão, hoje museu Nacional que foi destruído no incêndio de 2018, e parcialmente recuperado em 2022, localizado na Quinta da Boa Vista interligava ao Palácio da Rua Primeiro de Março, hoje uma agência dos Correios.

Como no mundo, o crescimento no Brasil também foi lento, primeiro porque toda a nova tecnologia ou invento, que venha modificar costumes humanos encontra uma natural resistência do status quo e segundo que, devido ao alto investimento necessário e a disponibilidade de equipamentos fabricados, em quantidade para atender a eventual demanda da época, não estavam acessíveis.

Somente depois da Primeira Guerra Mundial, já com a automatização das centrais telefônicas é que o crescimento foi mais acelerado. Em 1921 o mundo contava com 20 milhões de telefones, em 1925, quatro anos depois já contava com 32 milhões de telefones, um crescimento de 60% em 4 anos. Em 1929 chegava a 50 milhões de unidades, novamente um crescimento de 60% em 4 anos. Isto é, o telefone demorou 50 anos após sua invenção, para atingir 50 milhões de unidades.

O mundo só chegou a 180 milhões de telefones em 1965, 85 anos depois da invenção do telefone, nesta época o mundo já possuía 3,3 bilhões de pessoas. Isto é, uma taxa de apenas 5,45 por 100 habitantes, uma penetração ridícula, mostra que até esta época, somente uma parte abastada da população possuía telefone.

Hoje a população mundial é de 8 bilhões de pessoas e somente de celulares já são 5 bilhões. Isto é ainda temos quase 3 bilhões de pessoas a alcançar nos próximos anos.

A primeira outorga de concessão para exploração dos serviços telefônicos no Brasil, foi concedida por Dom Pedro II em 1879, à Companhia Bell Telephone com sede nos Estados Unidos, entretanto em 1884 São Paulo possuía um sistema telefônico com apenas 11 assinantes, conectados numa central manual operada por telefonistas. Um primeira central automática foi inaugurada em 1922 na cidade gaúcha de Porto Alegre - a capital do estado do Rio Grande do Sul, sendo a terceira das Américas depois de Chicago e Nova York.

A segunda cidade brasileira a receber uma central automática foi também uma cidade gaúcha, Rio Grande no Rio Grande do Sul, em 1925, que por acaso é a minha cidade de natal, isto é, antes de Paris e Estocolmo. O Brasil sempre esteve na vanguarda da tecnologia de telecomunicações, mesmo sendo um país em desenvolvimento, entretanto até a privatização do sistema de telecomunicações, o telefone era considerado um item sem muita importância pela nossa sociedade civil e pelo governo.

A tecnologia disponível até então dependia de fios e equipamentos elétricos de fabricação restrita, e nas cidades as quantidades de postes e uma infinidade de fios cresciam de acordo com o número de telefones instalados, afinal cada nova linha necessitava de um par de fios.

Para a longa distância, também sobre fios, os sistemas de ondas portadoras tinham pouca qualidade e o número de canais muito limitados provocavam filas intermináveis de espera, que muitas vezes passavam de 8 horas. Os investimentos na infraestrutura de telecomunicações sempre foram elevados e não existiam regras claras para o tema das telecomunicações no Brasil.

Durante mais de 86 anos, depois da invenção do telefone, o crescimento da rede telefônica no Brasil foi lento, cada região do país definia sua meta de crescimento e utilizava a tecnologia mais adequada às suas necessidades, começando com as centrais manuais operadas por telefonistas e depois com as centrais automáticas passo a passo, que só ficariam disponíveis após 1920. Em 1930 o Brasil possuía menos de 30.000 linhas telefônicas, sendo São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre as cidades com maior penetração da tecnologia da telefonia sobre fios.

Embora com glórias históricas em seu passado, como as realizações de Cândido Rondon, que construiu 5.000 quilômetros de linhas telegráficas em 1909, e o padre gaúcho Landell de Moura que em 1893, dois anos antes de Marconi, transmitiu sem fios sinais de sons musicais numa distância de 8 quilômetros, entre a Avenida Paulista ao Alto de Santana, em São Paulo, mesmo assim o Brasil não contava com serviços de telecomunicações sequer razoáveis até o final dos anos 60.     

Quando o código Brasileiro de Telecomunicações foi promulgado em 1962, as telecomunicações no Brasil experimentaram um ritmo de desenvolvimento mais acelerado, e embora existissem mais de 800 concessionarias licenciadas para fornecer serviços telefônicos, não existia uma coordenação entre elas.

Com o código, o país formula uma política nacional para o setor, uma vez que o Brasil era um arquipélago, não havia um sistema nacional, existindo apenas uma empresa que fazia as ligações interestaduais via rádio de qualidade sofrível e outra fazia as ligações internacionais.

Com um pouco mais de 1 milhão de telefones para uma população de 72 milhões de habitantes, em 1962, o Brasil era considerado um país mudo. A Embratel foi criada com o objetivo de interligar as várias regiões do Brasil e proporcionar a interconexão das várias operadoras existentes na época, foi criado também o Fundo Nacional de Telecomunicações com a finalidade de financiar a expansão da Embratel, e das demais redes de serviços locais.

Nos anos 60, a maior companhia telefônica no Brasil era a Companhia Telefônica Brasileira (CTB), que possuía dois terços de todos os telefones no país. A CTB de capital estrangeiro oferecia um serviço telefônico precário, foi quando o governo militar em 1966 nacionaliza e compra suas ações e com a Embratel inicia um plano de expansão da telefonia, em 1971. Também nasce a Intelsat, um consorcio mundial de comunicação por satélites, do qual o Brasil participa e permite que os brasileiros vejam a chegada do homem à lua e a transmissão da Copa do Mundo de Futebol de 70, para milhões de lares brasileiros.

Em 1972 nasce a Telebrás, a infraestrutura de longa distância já contempla um salto fantástico, graças ao trabalho da Embratel, muitas localidades já contam com o serviço DDD (Discagem Direta a Distância), falta, no entanto, cuidar dos serviços locais, onde os investimentos são mais pesados e de maior vulto.

Nessa época o Brasil contava com 2,41 milhões de linhas instaladas, um acréscimo de 1,41 milhão de telefones em 10 anos, uma marca notável considerando que o Brasil levou, desde o Império, 8 décadas para atingir 1 milhão de telefones.

Nestes 10 anos, nossa população cresceu, mais de 25 milhões de habitantes, chegando a 100 milhões de habitantes e desta forma nosso índice de telefones por 100 habitantes estava em 2,41, uma marca bem melhor que nos encontrávamos em 1962, que era 1,38 por 100 habitantes.

A principal missão da Telebrás era incorporar centenas de pequenas concessionárias municipais, estaduais e privadas espalhadas pelo país, e a captação de recursos para expansão das telecomunicações em todo o território nacional.

A situação da telefonia local era precária, mas a rede de longa distância já interligava todas as capitais, com mais de 15.000 quilômetros de troncos micro-ondas em operação pela Embratel, que já oferecia serviços interestaduais e internacionais de alta qualidade, o Brasil já tinha acompanhado ao vivo via satélite, a Copa do Mundo de 70 no México, e dois anos depois à chegada da transmissão nacional de TV em cores.

Em 1974, dois anos depois do nascimento da Telebrás, 27 operadoras já estão consolidadas em todo o país, uma em cada Estado da federação, entre outras empresas privadas em regiões especificas, no Sul, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraíba.

Neste período, de 1974 até a privatização em 1998, o Brasil consegue adicionar em 22 anos, 20 milhões de novas linhas telefônicas. Quando o sistema foi privatizado o Brasil tinha pouco mais de 22 milhões de linhas fixas e 9 milhões de linhas celulares.

De 1974 a 1998, quase 1 milhão de linhas fixas foram acrescentadas a cada ano, entretanto em 1998 a população já tinha crescido mais de 60 milhões de novos habitantes, chegando 163 milhões de brasileiros e as filas de candidatos por uma linha telefônica passava dos 10 milhões. Um telefone fixo nesta época custava mais que 5 mil dólares no câmbio negro.

Mas a década perdida dos anos 80, já mostrava que o Sistema Telebrás começava a dar sinais claros de uma crise institucional, que vinha represando investimentos e com isso agravando o congestionamento e os telefones se tornam a cada dia mais escasso, os serviços degradavam, os planos de expansão tornam-se sempre mais caros e as operadoras passam a não cumprir os prazos prometidos.  

A lei de informática neste período que produziu a proteção de reserva de mercado para a indústria nacional, causou enorme dano ao avanço da tecnologia no Brasil e consequentemente as telecomunicações com a obrigatoriedade de usar desenvolvimento nacional, sofreu substancial atraso tecnológico que produziu uma demanda reprimida de telefonia no Brasil, que só começou a ser recuperada após a privatização do setor após 1998.

O Brasil dá seu grande salto para o futuro acabando com o monopólio estatal, privatizando tudo e criando as condições para a competição em todos os níveis. As telecomunicações, já com grande parte de suas redes digitalizadas, e a microeletrônica produzindo chips com milhões de transistores, os computadores caminhando na direção da computação pessoal, bem como a já consolidada rede de satélites artificiais complementando os serviços globais, permitiram encontrar nos anos 90 as comunicações pessoais moveis.

Estamos na virada do século, o ano 2000 se aproxima, já faz 10 anos que os telefones celulares se tornaram realidade, a fibra óptica já fez 20 anos, o Brasil vive outro momento no campo das telecomunicações, sua rede fixa supera os 26 milhões de telefones, a telefonia celular com mais de 12 milhões de linhas, e sua rede de telefones públicos dobrou desde a privatização. No espaço 250 satélites giram em orbita geoestacionária na linha do equador.

Já em 2007, quase 10 anos depois da privatização, a telefonia fixa no Brasil cresceu 135%, com 40 milhões de linhas fixas. Os celulares já estão na terceira geração contando com 120 milhões de celulares registrados. Os primeiros smartphones com tela sensível começam a entrar no mercado, criando uma nova forma de comunicação homem máquina, tornando o celular uma poderosa ferramenta de comunicação na rede mundial de internet.

Hoje em 2023, com a quinta geração, o 5G presente em todas as capitais do Brasil, e em muitas cidades, estamos no limiar de uma nova revolução da tecnologia, que vai permitir velocidades e serviços ainda não experimentadas pelos usuários do 4G. Hoje somando todos os celulares que funcionam nas quatro tecnologias disponíveis em uso no Brasil, 2G, 3G, 4G e 5G, temos mais de 259 milhões de celulares registrados nas várias plataformas das operadoras.

A tecnologia 5G que foi ativada em julho de 2022 no Brasil, hoje já conta com mais de 4 milhões de usuários, o 4G conta com 210 milhões de celulares, quase o mesmo número de habitantes no Brasil, é a tecnologia que vai conviver lado a lado com o 5G, bem como as tecnologias 3G que ainda conta com 27 milhões de usuários e o 2G que suporta 10 milhões de máquinas de compras, as M2M e ainda 14 milhões de usuários nas áreas mais periféricas e rurais das cidades.  

Cada uma destas tecnologias 2G, 3G e 4G serão gradativamente desligadas conforme o crescimento dos serviços do 5G, que se o mesmo seguir o ocorrido no 4G, terá seu crescimento mais acelerado e desta forma serviços de tecnologia anteriores serão absorvidos pelo 5G.

O Brasil hoje está lado a lado com os países mais desenvolvidos do planeta, quando falamos de telecomunicações. Claro que muito ainda temos a desenvolver no campo científico e de geração de tecnologia local, mas em termos de serviços estamos alinhados às grandes potências, o 5G nos trará em breve uma infinidade de aplicações que já estão mudando a nossa maneira de relacionarmos com o mundo virtual, na educação, na saúde, no esporte, no lazer e no campo econômico e social.

Para finalizar este artigo, gostaria de deixar uma mensagem de otimismo e de agradecimento a todos que chegaram até aqui. O conhecimento deve ser absorvido e compartilhado, é a única maneira da humanidade continuar sua jornada em direção ao progresso e a felicidade.

Ao finalizar este artigo, onde finalizo esta série de 3 capítulos, sobre as Telecomunicações no Brasil, gostaria de expressar minha gratidão a todos que desde 1974 a 2017, participaram comigo nesta jornada incrível de construção das telecomunicações brasileiras. Agradeço a você que chegou até aqui. Grande abraço e até o próximo artigo. 

Rio de Janeiro, 24 novembro 2021.


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