2030 - Uma visão da Rede de Telecomunicações do Futuro

Este artigo busca fornecer uma visão da rede global de informações para o ano de 2030 e descreve o que estamos descortinando como os principais impulsionadores. A comunicação no ano 2030 será caracterizada por homens e máquinas que trocam informações de forma simples, confiável, segura e econômica a qualquer hora e local, utilizando os meios de sua escolha, seja voz, imagem, dados ou multimídia.

Estudos econômicos recentes quantificam as vantagens previsíveis de tal visão, de forma que se compararmos com estudos feitos em 1991, no alvorecer da telefonia celular onde um estudo de Arthur D. Little, já sugeria que as redes de informação representariam "combustível alternativo", isto é o petróleo do século 21. O estudo já previa que, a teleconferência, a televenda, o teletrabalho e a troca eletrônica de documentos poderiam reduzir em dez a vinte por cento do transporte de passageiros e ainda poderiam eliminar no mundo :

- o transporte diário de seis milhões de passageiros;

- aproximadamente trezentos bilhões de pedidos anuais de compra;

- quase treze milhões de viagens de negócios por ano;

- mais de novecentos milhões de quilômetros de frete terrestre e aéreo por ano.

Uma estimativa conservadora estima que, essa substituição de viagens e transportes pelas redes de informação poderia representar cerca de dezoito bilhões de dólares, ou seja, doze bilhões de dólares a mais do que as economias anuais proporcionadas pelo uso de combustíveis alternativos. Essa estimativa nem leva em conta o aumento potencial na produtividade individual como resultado do teletrabalho, estimado em cinco a quarenta por cento, dependendo da função.


Outro estudo em 1992, a Arthur D. Little realizou um estudo sobre a necessidade de uma rede de telecomunicações em 2030 em aplicações médicas, tais como consulta remota, sistemas de informação hospitalar e reivindicações dos segurados, a conclusão foi que eles poderiam economizar 25 bilhões de dólares anualmente.

Com esta grande imagem, a rede de informação do ano 2030 está sendo estudada, caracterizada pela sua banda larga e natureza inteligente. As características necessárias desta rede não são de forma alguma utópicas, como evidenciado por diferentes tendências no mundo atual das telecomunicações, Hoje a robótica já é aplicada em sistemas de informação locais para cirurgias de grande complexidade.

Algumas das tendências no mundo atual das telecomunicações

As mudanças no negócio de redes de telecomunicações nunca foram tão rápidas como são agora, elas provavelmente não diminuirão em um futuro previsível, muito pelo contrário. Os atores são múltiplos, incluindo reguladores, provedores de rede e serviços e fornecedores mundiais de equipamentos. Muito embora haja uma concentração, num número muito pequeno de fornecedores mundiais de equipamentos, a inovação continua avançando.

As estratégias dos reguladores são a criação de condições para a competição equitativa na prestação de serviços de telecomunicações, com base na premissa de que resultarão em um melhor atendimento ao usuário final e que estimularão a economia para a produção de muitos bens e serviços úteis.

Os princípios de estratégia dos operadores são bastante simples: minimizar os custos do ciclo de vida e aumentar as vendas introduzindo e comercializando novos serviços. O escopo e a maneira como são realizados dependem da competição, infraestrutura e rede existentes, bem como de suas capacidades financeiras, observar atentamente as inovações disruptivas que possam ameaçar o modelo de negócios.

Para os atuais operadores de telecomunicações, a redução do custo do ciclo de vida significa, antes de mais nada, uma redução substancial no custo de propriedade de sua rede atual, o que leva a uma drástica reestruturação da rede (e da empresa). Neste processo,  a modernizarão da rede para adaptá-la aos novos serviços e negócios que aparecerão nas próximas décadas, podem inviabiliza-las, se os cuidados com a adoção destas novas tecnologias não estiverem alinhados com a capacidade de investimento, rentabilidade das aplicações e velocidade da concorrência.

A reestruturação da rede geralmente implica uma grande redução (até vinte vezes mais) no número de centros de comutação locais, criando muito menos (embora muito maiores). Isso reduzirá a necessidade de trocas de trânsito, com o resultado de que pelo menos um nível de hierarquia da rede possa ser eliminado. Isso, juntamente com a introdução da transmissão de fibra para banda larga, levará a redes de comunicação planas com um roteamento de tráfego não hierárquico.

Do outro lado do negócio, os esforços visam aumentar as vendas. Novos geradores de lucros são criados, além dos serviços domésticos e das empresas atuais, abrindo a rede para provedores de serviços (por exemplo, serviços de televisão e vídeo streaming) e introduzindo serviços de rede inteligentes, e plataformas de aplicativos que a cada dia torna a vida mais simples e confortável.

As operadoras de redes móveis veem suas redes e empresas expandirem-se muito rapidamente. Ao fornecer um serviço que os operadores da rede fixa normalmente não fornecem, eles não hesitam em competir fortemente com eles, a menos que o operador de telecomunicações fixo também esteja autorizado a fornecer telefonia móvel.

Nesse caso, o que acontece é que os assinantes da operadora de telecomunicações substituem a segunda linha por um celular quando os serviços de telefonia móvel estão disponíveis. Isso resulta em operadores da rede móvel gerando tráfego adicional pela rede da operadora de rede fixa, pelo qual são cobrados. A estratégia das operadoras móveis é aumentar seu raio de cobertura e enriquecer suas ofertas de serviços (por exemplo, internet veloz com a introdução da tecnologia 5G) para obter ou manter uma vantagem competitiva.

Em outra frente, as operadoras de rede a cabo estão modernizando suas fábricas clássicas, introduzindo fibras ópticas para substituir grandes partes da rede coaxial. Isso reduz seus custos operacionais e melhora a qualidade e a disponibilidade do sinal de TV para o usuário final. Quando as operadoras de redes de cabo se beneficiam das fibras óticas, elas podem oferecer telefonia convencional, dados de banda larga e vídeo interativo aos seus assinantes.

Outro fator que deve ser levado em conta neste mundo em mudança das telecomunicações é o papel dos organismos de padronização. Os conceitos de oferta de rede aberta (ONP-Open Network Program) estão transformando o modelo tradicional da rede em um que separa funções de transporte (comutação e transmissão) e funções de controle (criação e gerenciamento de serviços, operação e gerenciamento de rede)

Nesse modelo, cada camada se torna uma entidade operável que oferece seus serviços à camada superior em um relacionamento cliente-servidor. Portanto, interfaces de camada aberta e intercomunicação entre camadas são aspectos fundamentais para todos os atores envolvidos em telecomunicações e destaca a necessidade de padronização. A participação continuada de todas as partes envolvidas nos principais eventos de normalização (por exemplo, fórum da UIT e da SDN) é, portanto, uma necessidade.

Os fornecedores de equipamentos de telecomunicações globais, que trabalham em um ambiente competitivo desde o início, e que têm sido constantemente forçados a confiar em uma operação eficiente enquanto produzem produtos de qualidade, veem como a concorrência está se fortalecendo, agora que está atingindo seus principais clientes tradicionais.

A estratégia dos fornecedores é estabelecer alianças estratégicas para que toda a gama de tecnologias e produtos necessários para a prestação de serviços de telecomunicações sofisticados possa ser adequadamente compartilhada e coberta de maneira eficiente. Buscando também parcerias com distribuidores de conteúdo, como forma de fidelizar seus clientes e garantir uma receita estável e segura Além disso, os fornecedores tornam-se planejadores e integradores de redes, ajudando novos clientes a compartilhar suas redes e fornecendo serviços de treinamento para a operação da rede.

A demanda por serviços.

Os indicadores de mercado estão cada vez mais apontando para um aumento nas necessidades de telecomunicações para vídeo e dados, bem como novas aplicações utilizadas em plataformas de aplicativos para varias áreas, desde a navegação on line, aplicativos de investimento, educação a distancia, medicina individual e coorporativa com dispositivos vestíveis controlados a distancia, bem como cirurgia robótica a distancia. Serviços de realidade aumentada e realidade virtual e imagens holográficas serão muito comum  no limiar da quarta década deste século 21.

Demanda por comunicação de imagem

2030 será caracterizado por uma imensa demanda pela transmissão de imagens no sentido mais amplo da palavra. Existe uma clara tendência de trazer um número crescente de serviços de vídeo para o lar através das telecomunicações, que serão necessários para justificar a rede de banda larga, ao mesmo tempo em que terão que gerar os benefícios econômicos necessários.

Os filmes digitais e a televisão de alta definição em 4K e 8K serão uma realidade no ano 2030, devido a alta velocidade disponível e o custo baixo de armazenamento. Os assinantes poderão selecionar de sua poltrona, através de comando de voz, ou movimentos programados, o filme desejado, seja para entretenimento, educação ou informação. Além disso, os assinantes podem fazer a compra em casa, jogar, etc.

A videoconferência que já é popular nos dias de hoje, será uma ferramenta tão real, que poderá substituir viagens e ser uma alternativa econômica ao transporte entre os empresários, e executivos. Talvez a reunião holográfica seja o prenuncio na introdução do tele-transporte, uma criação ficcional da mente humana.

Procura de novos serviços

Os serviços que estão rapidamente ganhando importância são os serviços multimídia que incluem os componentes básicos do futuro serviço de banda larga: voz, imagem de vídeo e dados. A rede do ano de 2030 terá a flexibilidade necessária para oferecer um ou serviços multimídia ao usuário em seu computador pessoal, tablet ou smartphone. Esses dispositivos suportarão uma combinação de comunicações de dados, voz e vídeo para um grande número de aplicativos, incluindo telefone, videotelefone, scanners, teleeducação, teleacesso para agências de viagens, serviços de bolsas etc. O usuário de telecomunicações em 2030 exigirá mais e mais serviços de redes específicas e personalizadas.

Usuários privados vão querer um serviço que emula uma rede privada pela rede pública, a chamada VPN (rede privada virtual). As VPNs podem oferecer às empresas uma vantagem competitiva estratégica a um custo total menor. A maioria desses serviços personalizados será suportada por aplicativos de rede inteligente. (IN)

Demanda por mobilidade

A penetração da comunicação sem fio em 2030 será generalizada. As previsões indicam que até o início da próxima década haverá 5,6 bilhões de usuários de telefonia sem fio no planeta. A mobilidade será suportada por um sistema móvel de sexta geração. Este sistema visa uma integração total dos sistemas móveis atuais, bem como a integração com satélites de baixa orbita. O 5G será responsável por mais de 78 por cento dos acessos totais da rede móvel pública com a rede de banda larga e também suportará comunicações multimídia sem fio.

A contribuição de um sistema universal de telecomunicações móveis terá um papel importante como facilitador da mobilidade pessoal. Esse sistema garantirá a mobilidade de tal maneira que o usuário possa ser chamado para comunicação pessoal, onde quer que esteja. Em 2030, os sistemas de satélites completarão a infraestrutura de rede para garantir cobertura universal. Os satélites tornarão isso possível para atender as áreas menos acessíveis, bem como para obter uma cobertura rápida e completa do território.

Demanda por redes locais.

A demanda  cada vez maior por poder de processamento, por um lado, e a substituição de mainframes por estações de trabalho e PC's, por outro lado, explicam a crescente demanda por redes que conectem esses computadores distribuídos. A relação custo-beneficio do uso de recursos em nuvem, de impressão comuns, bancos de dados e outros servidores aumentam essas demandas.

Essas redes locais são tão populares que formaram uma estrutura de teia de aranha nos prédios de escritórios e residências de hoje. É quase impossível imaginar uma vida empresarial sem eles. As redes locais oferecidas em 2030, não levarão em consideração as LAN's (redes locais) atualmente populares Token Ring e Ethernet. Essas redes serão baseadas nas LAN's FDDI (Fiber Data Distribution Interface) mais rápidas, de mais de 1 Gbit/s. Após o sucesso da telefonia sem fio, as LAN's sem fio (com velocidades superiores a 10 Gbit/s) conquistarão uma fatia do mercado. 

Demanda por serviços de dados. 

Dada a popularidade que as redes locais de alta velocidade terão em 2030 e a presença de megacorporações com subsidiárias distribuídas pelo mundo, haverá uma necessidade crescente de troca massiva de informações entre essas subsidiárias por meio da rede pública.

A rede em 2030 fornecerá esses caminhos de informação, transportando centenas de Terabit/s entre estações de trabalho localizadas a milhares de quilômetros de distância: a barreira da distância das redes desaparecerá sem qualquer degradação no desempenho.

Este último, por exemplo, impõe requisitos rigorosos à rede: as informações transferidas de uma estação de trabalho em Bruxelas para um local remoto em Tóquio podem levar muito pouco tempo (milisegundos), mas exigirão uma grande largura de banda (megabits). Um momento depois, os mesmos recursos de rede podem ser usados ​​para outra comunicação entre dois outros lugares por outro curto período de tempo.

Para isso, técnicas de comunicação de dados sem conexão usadas em redes locais também estarão disponíveis na rede publica. Este serviço público de dados sem conexão pode ser baseado em uma versão aprimorada do IP (Internet Protocol). Além do desempenho necessário, a rede de 2030 também oferecerá recursos adicionais, como verificação de endereço para grupos fechados de usuários (VPN).

 Tendências tecnológicas.

O mundo atual das telecomunicações é caracterizado por um enorme progresso técnico e uma tendência crescente à redução de custos. Isso se materializará em 2030 em uma rede de telecomunicações com baixos custos de transmissão e comutação, por um lado, e alto desempenho, por outro.

Uma visão geral da evolução das principais tecnologias é que o custo relativo de transmissão, (velocidade x distância) com fibra óptica está diminuindo, indicando que o custo das telecomunicações está se tornando praticamente independente da distância e ligeiramente dependente da velocidade (excluindo os custos de obras civis e obras de plantas externas).

A tendência de queda nos preços das memórias coincide com uma melhora no desempenho das maquinas que utilizarão essas memórias em 2030, que se aproximará dos Pentabits (1000 Terabits), as estações de trabalho serão mais potentes e as redes locais suportarão cada vez mais velocidades mais altas.

 Junto com a queda nos preços de troca devido à memória mais barata, também há um aumento na complexidade dos chips. A integração cada vez maior leva a chips com processos eletrônicos muito complexos, o que por sua vez leva a uma revolução nas comunicações como a que estamos vivenciando hoje.

Impacto dessas tendências na arquitetura de rede.

A evolução descrita acima tem um impacto considerável na arquitetura futura da rede. As principais características da rede 2030 serão as seguintes:

- Ser banda larga (deve suportar todo o tipo de serviço, multimédia e diferentes velocidades, por exemplo, cada assinante terá à sua disposição uma grande quantidade de Mbit/s, mas na rede interurbana serão necessárias centenas de Gbit/s;

 - Garantir conectividade universal e interoperabilidade. - Fornecer acesso global a todas as fontes possíveis de informação, independentemente dos meios de comunicação e armazenamento utilizados.

-Ser flexível para atender aos requisitos do usuário;

- Ser consistente, confiável e segura;

 - Ser capaz de acessar pessoas e localizações geográficas;

 - Ter um mecanismo flexível de alocação pública e privada, e operação sem fio;

 - Ter gerenciamento de rede flexível.

Conclusão.

Fazer um exercício de futurologia imaginando as funcionalidades de uma rede de telecomunicações para daqui a 5 anos pode ser desafiador, uma vez que no inicio dos anos 90 do século passado, quando a telefonia móvel dava seus primeiros passos e os sistemas em fibra óptica ligavam apenas estações de telefonia locais, seria quase imprevisível imaginar o incrível salto até os dias de hoje, como satélites de baixa orbita conectando áreas remotas e aplicativos e algoritmos definindo e modificando nossa maneira de consumir e nos relacionar com nossa comunidade.

Deveríamos ter retornado a Lua em 2024, mas chegou 2025 e o projeto Artemis que deveria colocar a primeira mulher na Lua não aconteceu. Marte, o sonho de Ellon Musk talvez tenha que ser adiado, e apesar do foguete dar ré e retornar inteiro a base, somente uma descoberta disruptiva poderá alterar o curso destas missões nos próximos 5 anos.

Bem, término por aqui este artigo e agradeço se você chegou até aqui. Se gostou deixe seu gostei ou um comentário que terei muito prazer em ler e responder.

Obrigado e até o próximo artigo.

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