A Tecnologia das Ferrovias – Parte 3 – As Locomotivas a Diesel
O Desenvolvimento da tração a diesel nas ferrovias foi lento
em comparação com o rápido avanço da locomoção a vapor. Em 1896 uma pequena
locomotiva construída pela Hornsby & Sons em Grantham na Inglaterra, foi a
primeira a empregar o sistema de bomba de injeção para levar o combustível até
a câmara de combustão a uma pressão relativamente baixa, ainda não era a ideia
inovadora de Rudolf Diesel que possui todos os créditos do incrível invento.
Rudolf Diesel formou-se em engenharia em 1880, começou sua
carreira em Paris na construção de uma moderna planta de refrigeração e gelo
numa empresa Suíça. Em 1890 mudou-se para Berlim e continuou trabalhando na
mesma empresa e nas horas vagas começou a trabalhar primeiro com vapor e
desenvolver sua pesquisa sobre a eficiência térmica e a eficiência dos
combustíveis.
Sua experiencia com uma máquina a vapor, usando vapor de
amônia não resultou numa boa experiencia, uva vez que o cabeçote do cilindro de
ferro não resistiu a pressão e explodiu durante um teste e quase o matou,
deixando-o muitos meses num hospital. Foi durante este período que Diesel
começou a conceituar a ideia de um motor que funcionasse com um óleo fino, que
em sua homenagem se chamou, diesel.
Diesel entendia de termodinâmica e as restrições teóricas e
práticas sobre a eficiência dos combustíveis, ele sabia que até 90% da energia
disponível no combustível é desperdiçada em um motor a vapor. Seu trabalho em
design de motores foi motivado pelo objetivo de índices de eficiência muito
maiores.
Ao contrário da ignição externa aplicada contra a mistura
interna de ar e combustível, o ar era comprimido internamente dentro do
cilindro durante o aquecimento, para que o combustível estabelecesse contato
com o ar imediatamente antes do término do período de compressão, acendendo-se
sozinho. Em seu motor, o combustível era injetado no final do curso de
compressão e era inflamado pela alta temperatura resultante da compressão.
Depois de 15 anos de experimentação, em 1897, Diesel
realizou o primeiro motor de injeção bem-sucedido apresentando uma compressão
de cilindro vertical único de quatro tempos e 25 cavalos de potência,
revolucionando a indústria de fabricação de motores.
O motor diesel, como o a vapor, emprega pistões nos
cilindros, mas essa é a única semelhança. A combustão ocorre nos cilindros,
onde o ar que entrou é comprimido até que atinja os 540 graus centigrados e
inflama o combustível injetado, a consequente explosão do gás aciona os pistões
dos cilindros para baixo, criando o movimento mecânico.
Os primeiros motores a diesel eram pouco potentes e possuíam
muitos acessórios pesados. Naquela época, as locomotivas a vapor puxavam trens
de carga de 1.000 toneladas e trens expressos de passageiros a 130 km/h em
serviços regulares.
O desempenho dos motores de combustão interna parecia ser, a
princípio, um rival muito modesto, no entanto os engenheiros ficaram atraídos
por sua economia e eficiência, uma vez resolvidos os problemas técnicos existentes.
Entre esses problemas, um dos principais era a transmissão do movimento
rotativo do motor para os eixos das locomotivas.
Numa primeira fase, o motor a diesel foi utilizado como
gerador para alimentar os motores de tração com corrente elétrica. A tração
elétrica estava sendo estabelecida no final do século 19, e os engenheiros
podiam fazer uso das experiencias já testadas.
Durante 25 anos a locomotiva com motor a diesel permaneceu
como um aspecto menor, pouco conhecido da tração ferroviária, sem, no entanto,
jamais ter sido abandonado. Sua vantagem, em relação a tração elétrica, era que
não necessitava de uma linha de alimentação elétrica, podendo se mover de modo
autônomo, diferentemente das locomotivas elétricas.
Comparadas com as locomotivas a vapor, as máquinas a diesel eram
mais eficientes do ponto de vista térmico, produziam mais força de tração no
arranque, uma vez que usavam até 6 eixos motorizados, que permitiam que uma
locomotiva diesel produzisse este esforço de tração, sem que as rodas
patinassem, não provocavam incêndios durante a marcha e requeriam instalações e
equipamentos mais simples, bem como uma quantidade menor de operadores da
locomotiva, um único maquinista podia manejar 3 unidades a diesel acopladas, em
lugar dos 6 homens necessários para a tração a vapor.
Em 1912 um automotor diesel-elétrico foi construído na
Suécia e colocado em serviço em Estocolmo, era a primeira aplicação comercial
do diesel nas linhas férreas, mas somente a partir de 1924 é que houve maiores
progressos, mais precisamente nos países nos quais o sistema diesel-elétrico
seria desenvolvido em grande escala.
O custo das locomotivas a diesel em torno de 100 mil
dólares, representava quase o dobro do custo de uma locomotiva a vapor de
manobra, mas ainda assim elas eram mais econômicas em termos de uso e
rendimento, entretanto ainda não era o momento da revolução. Em 1936, nos
Estados Unidos, já funcionavam 190 locomotivas a diesel em serviços de linhas
secundarias, onde as locomotivas a vapor, não eram rentáveis.
Alguns anos mais tarde, a chegada dos automotores de alta
velocidade mudou a percepção da tração a diesel. A GM, já uma das grandes da
indústria, pesquisava o desenvolvimento de um motor a diesel menos pesado e
mais potente, empregando novas ligas metálicas e estava a ponto de desafiar em
grande escala, o predomínio da tração a vapor nas ferrovias.
A GM, com máquinas a diesel exaustivamente testadas de
aspecto inovador e atrativo, que se inspiravam na tradição automobilística da
companhia e com uma equipe de hábeis vendedores, a companhia continuou com
esmerada política de assistência pós-venda e de serviços de peças de reposição,
tornou a adoção das modernas locomotivas a diesel um verdadeiro sucesso.
As exigências da guerra entre 1939 e 1945 produziram mais
desenvolvimento na tecnologia da tração a diesel. As linhas norte-americanas
estavam sendo rapidamente convertidas para a tração diesel, desde os primeiros
anos da década de 1950, e o mesmo acontecia no restante do mundo.
Desde os anos 1930, a tração a diesel vinha se impondo nos
motores leves, mas agora se impunha nos trens das linhas principais e nos
serviços urbanos, sem contar onde a tração elétrica havia se imposto
anteriormente, como por exemplo na Itália, Suíça e Áustria. Isto significou uma
importante mudança na cultura nas companhias ferroviárias: dos projetistas aos
maquinistas, do pessoal de controle aos de manobras, todos deveriam aprender
novas tarefas.
As oficinas, os depósitos mudaram, assim como as instalações
e seus equipamentos e ferramentas. Da mesma que as companhias ferroviárias, os
construtores passaram por uma fase de forte inovação. As companhias se fundiram
e se associaram de forma a atender os mercados internacionais. A partir dos
anos 1960, os motores e as locomotivas a diesel passaram a ser a base dos
negócios ferroviários.
Uma variedade de motores a diesel, com capacidades entre 500
cavalos e 3000 cavalos de força com motores de 4 cilindros a 12 cilindros em
linha ou em V, foram construídos e que superaram em força as locomotivas a
vapor e atingiram velocidades semelhantes com custos operacionais menores.
A descoberta de novas ligas metálicas e mais recentemente
plásticas permitiram a continuidade e o sucesso dos motores a diesel mais leves
e potentes, que hoje dominam o transporte marítimo, ferroviário de carga e
rodoviário. Sistemas alternativos de geração de energia elétrica em sua grande
maioria utilizam motores a diesel.
As locomotivas a diesel, são uma realidade até hoje e são
prioritariamente utilizadas em linhas ferroviárias, onde a eletrificação não é
economicamente viável e em países que não dispõem de uma planta elétrica com
capacidade de suportar toda a demanda energética necessária.
Embora o apelo por energia limpa seja um desejo de muitos
governos e países, as locomotivas a diesel serão ainda muito utilizadas nos
anos vindouros, pois uma matriz energética limpa precisa ser viável em custos e
desta forma o petróleo, um importante combustível, que mudou o curso da
humanidade, permanecerá entre nós por muitas décadas.
Finalizo aqui este artigo, e se você gostou, deixe seu
comentário que terei muito prazer em ler e comentar. Até o próximo artigo sobre
as locomotivas elétricas. Obrigado e grande abraço.
É notável a forma como Cabreira, em seu terceiro artigo, demonstra uma maestria invejável ao abordar o tema das ferrovias. Ele não apenas explora o assunto com profundidade, mas o faz com uma elegância e clareza que transformam a leitura em uma experiência realmente enriquecedora. A fluidez de sua escrita e a precisão em suas análises são dignas de aplausos, consolidando-o como uma voz essencial e autoritária no estudo das ferrovias.
ResponderExcluirParabéns ao Cabreira por mais essa obra-prima!